sábado, 8 de fevereiro de 2014

A Necessidade de Ser Ouvido



Outro dia assisti na TV, no programa de Ana Maria Braga, uma reportagem sobre esse assunto e, pelos depoimentos das pessoas, percebi o quanto os seres humanos estão carentes de serem escutados de forma realmente efetiva. Esse fato me lembrou de um amigo que há muito tempo me confessou que um dia estava tão desesperado e por não ter com quem conversar começou a falar com as paredes. Isso é triste... muito triste.

Nesses depoimentos as pessoas diziam que adoram ir ao salão de beleza, pois lá elas podem falar o que estava em sua alma e sobre diversos assuntos por que tinham quem as escutassem; uma senhora motorista de táxi tinha clientes cativos porque ela os ouvia...  e assim por diante com vários outros exemplos.

Fico pensando por que será que isso acontece? Por que será que a humanidade não tem tempo para o outro? Se somos tão carentes será que isso não seria razão para perceber que o outro também o é?


Saber escutar é um dom... e quando digo saber escutar não é fazer de conta que está ouvindo. É ir muito além da audição. A pessoa está nos contando algo importante e muitas vezes o nosso pensamento está em outro lugar, em outra pessoa, em outro fato. Outras vezes menosprezamos ou banalizamos aquilo que estão nos falando. Outras vezes alguém nos conta um problema que o deixou amargurado e nós dizemos: por causa disso que você está chorando, que besteira?

 Escutar é estar presente por inteiro, é mostrar interesse, é estar com a alma disponível e aberta para o outro que é o nosso próximo.

Fico me interrogando? Por que temos tanta dificuldade em ouvir? Por que temos dificuldade em captar e compreender o que o outro quer nos passar com a sua fala? E quando digo compreender me refiro não apenas ao significado das palavras e sim ao que elas realmente querem nos dizer, quais os apelos, quais os sentimentos, quais as alegrias ou as dores que estão nos passando? O que uma alma está querendo passar para a outra alma? Para isso, penso que é importante nos desapegarmos dos nossos conceitos, dos nossos paradigmas, dos nossos preconceitos, para que possamos ouvir sem julgar, sem criticar, sem tirar a devida importância do que o outro está nos passando.

Assim, saber ouvir é um dom e é uma arte que nos traz grandes ganhos, aprendizados e grandes experiências. Tudo isso que estou falando me remete a essa estória que ouvi um certo dia e que fala de ouvir o inaudível...

 “Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre, com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.

Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então disse o príncipe: "Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus..."

E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando: "Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta..."

Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse..." E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria ter certeza de que estava no caminho certo.

Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. Paciente e respeitosamente o príncipe disse: "Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite... O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse: Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Agora, você já está apto a ser um rei!!!

Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um." É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano... Quantas vezes deixamos de ouvir até o que 'berra' o nosso próprio coração...” (anônimo)

Concluindo essas minha elucubrações sobre o assunto, fica a sugestão para que ao ouvir o outro possamos entrar em contato com a sua essência mais intima, que possamos colocar nossa audição e, sobretudo, nosso coração e nossa alma em contato com o coração e com a alma do outro, por meio da escuta ativa, solidária, compreensiva e amorosa. Isso é um aprendizado diário e se realmente quisermos e estivermos estimulados para que isso aconteça, logo faremos parte daquele seleto grupo de ser humano que tem o dom e a arte de saber ouvir.

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